Exibição

Postado por Jader Damasceno sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

MARIO CRAVO NETO

Fragmento de uma entrevista cedida por Mario Cravo Neto, para Tatiana Mendonça do site Croqui de Luz.
Como se deu a passagem da escultura para a fotografia?
Não se deu. Quando fui para Nova York, já fazia as duas coisas. Lentamente deixei a escultura para me envolver apenas com fotografia, porque não havia tempo para fazer as duas. Não saí, simplesmente deixei uma de lado.

Era um incômodo para o senhor ter um pai escultor?
Um ou outro falava que eu deveria me dedicar só à fotografia, Jorge Amado era um deles, mas a mim nunca incomodou.

Como é a relação com seu pai hoje?
É muito boa, uma relação de conversa, de carinho. O primeiro livro que fiz de fotografia foi Cravo, uma interpretação visual das esculturas dele. Normalmente os filhos de artista são dependentes ou estão em outra. Neste aspecto, a grande contribuição que herdei foi o conceito de que não se deve na arte fazer algo que favoreça o outro.

E com o seu filho Christian, que também é fotógrafo?
Christian tem o temperamento mais difícil. São problemas de convivência, separei da mãe dele há muito tempo… Praticamente não o vejo, ele não compartilha suas fotografias comigo. Ele é muito talentoso, mas só conheço o que ele expõe. Não faz como eu faço com o velho. É um personagem solitário. Talvez mais tarde amadureça e conviva com o pai.

O senhor passou sete anos fotografando o candomblé. A religião é um estimulante criativo para a sua fotografia?
Essas manifestações afrodescendentes sempre me tocaram muito. Levei sete anos fotografando um só terreiro, gravando vídeos e fotografando. Fiz um livro. As últimas fotografias em cores que fiz foi no terreiro de Balbino. Mas hoje não faço mais candomblé.


As suas fotografias têm um pouco de realismo fantástico?
Não. Chamaria mais de realismo mágico, no sentido espiritual, religioso. Tenho mais uma visão religiosa, de aprendiz.

O senhor trabalha com cinema, vídeo. Tem alguma coisa guardada?
No candomblé, gravei tudo em DVD, vou editar um dia. Tem muito material, mas tem um videozinho que é muito simples, são cinco minutos, um plano só, um cara possuído por Exu, dançando, fazendo os movimentos, com uma música de Bob Dylan cantada por Cat Power. Exu é visto como um personagem ambíguo, mas é o mais importante, porque sem ele não existe nada. É ele quem leva o recado, que se comunica, que diz ‘venha ao nosso mundo’. Mas a edição não está boa, vou refazer. Tem coisas que a gente faz e tem carinho. Essa é uma dessas coisas.

O senhor prefere fotografar em preto-e-branco ou colorido?
Sempre fotografei colorido e preto-e-branco. Devo ter umas 300 mil imagens em casa. Obviamente não são todas usáveis, mas é o que consegui. Só fazia isso (risos). São 30 anos de Carnaval, festas populares. A grande coisa das festas populares eram aqueles panos de fundo coloridos. Aí vieram as companhias de cerveja e começaram a padronizar tudo. No no dia em que cheguei à Praça Castro Alves e vi que não tinha mais barraca, parei de fotografar.

Fotografar é aprisionar o tempo?
Não aprisiona porque este tempo que você registrou, ele é fictício, é dado a interpretações de quem está vivenciando isso naquele momento ou no futuro. A fotografia é documental por excelência, ela documenta mecanicamente um momento, mas a interpretação dessa documentação pode ter uma importância no passado e não no futuro, ou ter no futuro e não ter no presente.

Como lida com a fotografia digital?
Existe o aspecto do preciosismo da cópia fotográfica, que hoje em dia está se tornando meio inviável porque está tudo sendo digitalizado. Você não tem mais o material, não tem os papéis. Estou recolhendo muita coisa minha que está no exterior, em galerias, para estocar aqui, porque estão se tornando preciosidades temáticas e técnicas. Tinha muito prazer em fazer minhas cópias. Eu adoro laboratório, trabalhava de noite lá. Mas agora está ficando meio difícil, o laboratório está desativado. Quem faz minhas cópias, e muito bem, é Christian. Porque elas têm uma característica inusitada, as luzes são baixas, elas são escuras. E ele viu isso, sem eu nunca ensinar nem dizer. Ele tem isso nos genes.

O senhor tem fotografado?
Não, mas o estúdio está prontinho para começar. Quero agora fotografar composições com plantas medicinais e afros. Não estou muito a fim de fotografar gente.


ENTREVISTA COMPLETA 
 


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